UMA CARTILHA SOBRE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL COMO FERRAMENTA PARA TRANSFERÊNCIA DE RESULTADOS CIENTÍFICOS

Pires, J.B. & Mesquita, R.C.G.

INTRODUÇÃO


"Maiores esforços são necessários para reduzir e proteger a rica biodiversidade das florestas amazônicas. Riscos para a floresta amazônica incluem desmatamento, exploração madeireira, fogos, fragmentação extinção da fauna, invasão de espécies exóticas e mudanças do clima." (Fearnside, 1999).
"Em termos absolutos, a taxa de desmatamento na Amazônia é maior que em outras regiões, e parece estar aumentando." (Laurance, et al, in press). Considerando-se a extensão da floresta, e a dimensão de seus problemas sócio-ambientais, ainda é relativamente limitado o número de técnicos treinados para atuar em pesquisas, gerenciamento e educação na região.
Medidas que auxiliem a difundir para um público leigo todas as conseqüências da depredação da Amazônia, são importantes e urgentes. A transferência de informações científicas e o treinamento de técnicos, moradores de comunidades rurais e urbanas, estudantes em diversos níveis e tomadores de decisões pode diminuir os impactos negativos sobre a floresta. A informação científica existente, precisa ser adaptada para uma linguagem mais simples e acessível, e sua aplicação deverá ser feita através de meios de fácil acesso ao público leigo em geral.
Após 22 anos de existência do projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, muitos resultados de pesquisas estão disponíveis para se mostrar à sociedade amazônica, difundindo informações que possam influenciar a conservação e o uso racional da floresta tropical amazônica.

OBJETIVO

O presente trabalho está desenvolvendo uma cartilha como instrumento na transferência de informação científica relacionada às conseqüências da fragmentação florestal na Amazônia.


CONTEÚDO CIENTÍFICO DA CARTILHA

A cartilha sobre fragmentação florestal está sendo estruturada e baseada em informações técnicas, no âmbito legal, ambiental e de gerenciamento do recurso florestal, possuindo, no entanto, uma linguagem simples, divertida e ao mesmo tempo didática e informativa.
Quanto a estrutura, a cartilha foi estruturada em quatro partes:
1ª: Florestas tropicais e sua importância
2ª: Histórico de ocupação na Amazônia
3ª: Conseqüências negativas da fragmentação florestal.
4ª: Como diminuir os impactos negativos causados pela fragmentação florestal.
A primeira parte trata da importância da existência das florestas tropicais para a manutenção do clima global, para conservação da biodiversidade e para extração de recursos naturais.
Na segunda parte, ênfase maior é dada ao histórico de ocupação humana na Amazônia, considerando as transformações na paisagem e o surgimento dos fragmentos florestais. Entre estas transformações, destaca-se a extração desordenada de recursos florestais, incluindo madeiras, caça e pesca predatória, criação de pastagens, agricultura, construção de estradas, etc.
Como conseqüências negativas da fragmentação florestal, a cartilha dá um destaque aos efeitos oriundos das alterações no microclima, ocasionando o chamado "efeito de borda", que implica na exposição da vegetação ao redor do fragmento e que consequentemente sofre com uma maior ação dos ventos, com o aumento de temperatura e diminuição da umidade.
Ainda devido ao isolamento, considera-se os problema enfrentados por espécies animais e vegetais principalmente a menor probabilidade de estabelecimento do fluxo gênico contínuo entre os fragmentos.
Temas como o comprometimento dos mananciais hidrográficos, principalmente assoreamento e retirada da mata ciliar devido a fragmentação florestal, abrem precedentes para que seja destacado a importância da conservação dos recursos hídricos para todo o ecossistema, inclusive para o homem.
A cartilha aborda ainda questões pertinentes ao uso indevido do solo tais como pastagem, abertura de grandes campos para agricultura e uso incorreto e constante das queimadas, levando ao assoreamento do solo e erosões, dificultando o estabelecimento de novas espécies.
A última parte, apresenta algumas das muitas alternativas existentes para que se diminuam os efeitos negativos da fragmentação florestal. Destaca ainda a importância do cumprimento da legislação ambiental brasileira.
Após ter sido feito todo este levantamento bibliográfico e escolha dos temas de maior relevância, chegou-se a conclusão que a melhor forma de apresentação era transformar toda esta informação em uma história onde os personagens principais seriam justamente aqueles que mais sofrem com os efeitos da fragmentação (as árvore, os animais e o próprio homem). A linguagem se apresenta de forma divertida, sendo toda ela acompanhada por ilustrações e diálogos, além de destacar as informações científicas mais importantes.
Com relação ao público alvo, trabalhamos com uma linguagem descontraída sem ser infantil e por isso esperamos que a faixa etária ideal esteja estabelecida entre 12 à 15 anos, ou seja, da sétima série do ensino fundamental até o primeiro ano do ensino médio. Uma definição mais específica somente acontecerá após a cartilha ter passado pelo crivo de professores e especialistas da área pedagógica e didática, e também após ter sido aplicada em algumas escolas selecionadas. Somente após estes passos, a cartilha será publicada em uma escala maior.

PRÓXIMOS PASSOS:

Esta cartilha ainda encontra-se em construção e já temos planejado próximas fase para conclusão e acompanhamento de sua contribuição didática. Entre as fases prevista encontra-se;


  • Adequação da linguagem técnica para o público alvo

  • Consulta a educadores e professores sobre a adequação didática

  • Aplicação da cartilha em escolas selecionadas

  • Avaliação do grau de eficácia do instrumento para transferência científica e influência de comportamento.

Está claro que a cartilha não é um fim em si mesmo e que como instrumento didático precisa ser avaliada e Ter em si flexibilidade para mudanças na medida em que o conhecimento científico se aprofunde. A maior pretensão é que a mesma possa influenciar o comportamento de jovens, aumentando seu vocabulário na área ambiental e social com relação aos efeitos da fragmentação. Jovens bem informados serão capazes de construir uma atitude mais positiva para a conservação da Amazônia.

BIBLIOGRAFIA

DELAMÔNICA, P. et al. No prelo Uma paisagem fragmentada: Futuro do Rio Negro? Oliveira, A. & Daly, D. As florestas do Rio Negro.
FEARNSIDE, P.M. 1999. Biodiversidade nas florestas Amazônicas brasileiras: Riscos, valores e conservação Revista Holos p.33-59.
LAURANCE, W.F. & DELAMÔNICA, P. Revista Ciência Hoje vol. 24 n.º 142 p.26-31
LAURANCE, W.F. & VASCONCELOS, H.L. 2000. A década de decisão para a Amazônia. Ciência Hoje, Vol. 27 n.º 160 p. 59-62
SALATI, E.; Santos, A. A.; LOVEJOY, T.E. & KLABIN, I. 1998. Por que salvar a floresta Amazônica INPA Manaus AM
SCHIERHOLZ,T. et al. 1991. Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais Ciência Hoje 12 (71): 60-67.

CONTATO
Janaina Barbosa Pires
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Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais / INPA
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