VALIDAÇÃO MOLECULAR DE MORFO-RAÇAS PRIMITIVAS DE PUPUNHA, UMA PALMEIRA DOMESTICADA PELOS AMERÍNDIOS.

Rodrigues, D. P. 1; Clement, C. R. 2; Astolfi-Filho, S. 3
1Universidade do Amazonas; Manaus; Amazonas; Brasil; drodrigues@interlins.com.br; 2Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA); Manaus; Amazonas; Brasil;cclement@intenext.com.br:
3Universidade do Amazonas; Manaus; Amazonas: Brasil; sastolfi@fua.br

A pupunha (Bactris gasipaes Kunth, Palmae) é uma palmeira com ampla distribuição nos trópicos úmidos americanos e possui abundante diversidade genética nas suas populações silvestres e cultivadas, devido a estas estarem em diferentes estágios de domesticação a partir de bases genéticas distintas. Como conseqüência da domesticação, existe um complexo de raças primitivas que foi parcialmente caracterizado morfologicamente e mapeado.
Marcadores RAPDs foram usados para avaliar a variabilidade genética de pupunha mantida no Banco Ativo de Germoplasma de Pupunha (INPA), Manaus, AM, bem como a hipótese de existência das morfo-raças, suas relações e estrutura genética. Foram utilizadas 220 plantas de 7 morfo-raças de pupunha (Bactris gasipaes Kunth), e 30 plantas de um possível progenitor da pupunha (B. gasipaes var. chichagui, originalmente denominada B. dahlgreniana Glassman). Utilizou-se 8 iniciadores para marcadores RAPD e obteve-se 97 marcadores polimórficos, com boa reprodutibilidade.
A heterozigosidade média estimada para as morfo-raças da Amazônia foi de 0,30, com porcentagem de polimorfismo de 86%, maior que os encontrados para as morfo-raças da América Central (h = 0,25; 74,3%) e B. dahlgreniana (0,27; 80%) (Tabela 1).

Tabela 1 - Heterozigosidade e porcentagem de loci polimórficos (95 e 99%) das morfo-raças de Bactris gasipaes, da Amazônia e América Central, e B. dahlgreniana (populações de Benjamim Constant e Acre).

A diversidade genética (GST) entre as morfo-raças foi de 15%, enquanto 85% foi dentro das morfo-raças, sugerindo que as morfo-raças são muito relacionadas. Pelas distâncias de Nei, observou-se: (1) um grupo na América Central, representado pela junção das morfo-raças Tuíra e Utilis (distância=0,0187) e depois a Guatuso (distância=0,0265) (Figura 1), sugerindo uma só raça, que podemos chamar de Utilis, o que foi confirmado pelo Exact Test e pelo alto fluxo gênico estimado entre estas morfo-raças (Utilis/Tuíra=15,7; Tuíra/Guatuso=10,3; Guatuso/Utilis=12,4); (2) um grupo na Amazônia Ocidental, representado pela junção das morfo-raças Solimões e Putumayo (distância=0,0243), que o Exact Test demonstrou ser iguais e o fluxo gênico entre elas foi alto (Nm=16,3), o que também sugere uma só raça; neste caso o nome de Putumayo deve ser conservado; a este grupo se juntou a morfo-raça Pampa Hermosa (distância=0,0338) e depois B. dahlgreniana, população de Benjamin Constant (distância=0,0639) - este grupo da Amazônia Ocidental se juntou ao da América Central a uma distância de 0,0788; (3) finalmente observou-se um grupo na Amazônia Sul-oriental, representado pela morfo-raça Pará e B. dahlgreniana, população do Acre (distância=0,0652), que juntou-se aos demais a uma distância de 0,1332.

Figura 1 - Dendrograma baseado nas distâncias de Nei (1972) entre as morfo-raças de B. gasipaes e B. dahlgreniana, populações Acre e Benjamim Constant. A consistência dos nós está em porcentagem dos marcadores que os apóiam.

As raças Pará e Pampa Hermosa foram confirmadas tanto pelas distâncias como pelo Exact Test, o que concorda plenamente com a interpretação morfológica. A reanálise da matriz em luz destas considerações gerou um dendrograma de distâncias de Nei (Figura 2) com a seguinte estrutura: um grupo Ocidental com as raças da Amazônia Ocidental, representado pela junção da raça Putumayo com a Pampa Hermosa (distância=0,0284; 22% de consistência), com a América Central, representada pela raça Utilis (distância=0,0529; 23%), e finalmente com B. dahlgreniana, população de Benjamim Constant (distância=0,0763; 20,3%); e o grupo da Amazônia Sul-oriental, representado pela raça Pará e B. dahlgreniana, população do Acre (distância=0,0796; 18,5%), que juntou aos demais a uma distância de 0,1173 e consistência de 100%. Pelo Exact Test (Raymond & Rosset, 1995), observou-se que todas as raças propostas pela caracterização molecular são diferentes.


Figura 2 - Dendrograma baseado nas distâncias de Nei (1972) entre as raças de B. gasipaes e B. dahlgreniana, populações Acre e Benjamim Constant, proposto pela caracterização molecular. A consistência dos nós está em porcentagem dos marcadores que os apóiam.

Esta nova interpretação das raças e as relações entre elas também apóia a hipótese de uma única origem para a pupunha no sudoeste da Amazônia e sugere duas vertentes migratórias: uma para o Oriente e outra para o Ocidente até a América Central. Esta validação molecular das raças ajudará a entender melhor a história étnica associada a esta palmeira, bem como permitirá expandir a pesquisa sobre as culturas humanas associadas às raças.

Palavras-chaves: Bactris gasipaes, caracterização molecular, raças primitivas, história étnica.