STI - Tema: Etnoconservação: uma
questão das populações tradicionais na Amazônia?
Objetivo: Estabelecer o diálogo sobre os mecanismos de Etnoconservação
como questão das populações tradicionais ou de responsabilidade
social.
Participante: Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro (M.Sc.)
Projeto Pyrá/CCA/UA
Na Amazônia, à medida que essa região foi adquirindo
destaque no panorama internacional, a preocupação com a
conservação de seu patrimônio natural foi tomando
proporções frenéticas, ultrapassando fronteiras,
culminando com um grande impulso dado a partir da Rio-92 – Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Com a difusão do novo paradigma de desenvolvimento – o desenvolvimento
sustentável - surge um elo entre as populações tradicionais,
o meio cientifico (particularmente o biológico), as organizações
sociais e o estado, no sentido de conciliar interesses e buscar concretizar
o que de fato é proposto nesse novo processo. Surge a aproximação
das agendas: social e ambiental, e a junção das ciências
sociais e biológicas.
Este elo se estabelece com base na reordenação de interesses
dissociados de cada grupo: 1o. as populações tradicionais
criando e utilizando formas de manejo e tecnologias para o uso dos recursos
naturais como garantia de sobrevivência; 2o. o meio cientifico preocupado
em preservar os ecossistemas pensando em espécies da fauna e flora
raras, ameaçadas, novas ou que mereceriam estudos mais detalhados;
3o. as organizações sociais, centrando o foco das atenções
nas questões diretamente ligadas ao público que representavam:
seringueiros, camponeses, ambientalistas, trabalhadores, etc; 4o. o Estado,
legislando para criação de reservas intocáveis para
garantir a sobrevivência da biodiversidade, haja vista a importância
que o termo foi adquirindo.
Assim, a etnoconservação passa a ser considerada na Amazônia
como uma nova forma que os movimentos sociais e ambiental passam a enxergar
e praticar, considerando a sociodiversidade amazônica. Logo, àquele
ambientalismo romântico, contemplativo passa por uma transformação
a partir das necessidades impostas pela realidade amazônica e o
modelo de desenvolvimento em voga. Acontece uma explosão que se
dá como um processo sem volta que tem que ser encarado pelo Estado
em resposta a pressão popular, adequando as regras (leis) a nova
visão ambiental. Logo, na busca de refazer uma prática de
conservação baseada no “como se pode” e não
mais em proibições, da cunha da regulação,
as populações tradicionais passam a ser enxergadas como
um espelho cuja imagem deve ser interpretada e relida, para subsidiar
uma forma de conservação baseada no “uso racional”
que garantiu durante décadas a sobrevivência dessas populações.
Como resultado dessa nova ordem, os sociólogos passam a ser chamados
com imensa rapidez para fazerem parte dos projetos de pesquisa que visam
subsidiar Planos de Manejo dos Recursos Naturais. Durante a construção
desse processo verifica-se em alguns casos, a manipulação,
utilização e apropriação dos conhecimentos
das populações tradicionais como forma de legitimar modelos
que se projetam como “receitas” para o desenvolvimento e a
conservação da região como um todo, excluindo a leitura
do diverso que marca fortemente a Amazônia. As estratégias
das populações que visam sua sobrevivência passam
a ser interpretadas como modelos “frios” de conservacionismo,
excluindo-se o contexto particular em que essas experiências ocorrem.
Não podemos deixar que o dialogo estabelecido entre as diversas
áreas do conhecimento e as populações tradicionais,
grande virtude desse processo, seja interrompido. A aceitação
e o reconhecimento, por parte da comunidade cientifica, do saber das populações
tradicionais da região e a discussão estabelecida para a
construção do novo saber para ambos, devem ser estimuladas.
Aproveitar os pontos que unem os interesses dos vários atores (preocupação
com as gerações futuras; garantia dos recursos para sobrevivência/desenvolvimento
econômico; diversidade de recursos para a sobrevivência/garantia
de matéria prima, entre outras) para traçar cenários
que integre a responsabilidade social dos diversos segmentos na busca
da conservação dos recursos naturais, divisão eqüitativa
dos recursos financeiros e da esfera de poder, estreitando o abismo que
existe entre esses segmentos, é uma prática saudável.
As diversas experiências que são experimentadas hoje na região
devem ser consideradas como a busca de propostas e não como soluções
milagrosas. Quanto mais consideramos os diversos interesses, trocarmos
experiências e dialogarmos, mais, estaremos próximos da etnoconservação,
considerando a diversidade e a responsabilidade social de toda a sociedade,
inclusive daquelas que surgirão no caminho.
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